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sábado, novembro 25, 2006

Torre de Menagem(Braga)



Ao seu cimo eu subi,
Mas antes pelas escadas eu vi
O que realmente se passava,
Onde realmente estava.
Muito desespero imaginei,
Tensão e lágrimas secas encontrei
Enquanto vagarosamente subia.
Medo em cada escada sentia.

Sofrimento, é a palavra capaz de descrever
Aquilo que fracamente estava a ver.
Do seu cimo vi cá em baixo tristeza,
Perdia-se no olhar da incerteza.
Um cenário de guerra ali foi criado,
O massacre tinha começado.

«Soldados furiosamente avançavam.
Obstáculos não encontravam,
Porque arrasavam
Com tudo, por onde passavam.
Pessoas mortas no chão,
Gotas de sangue espalhadas
Como migalhas de pão.
Vidas assim foram tiradas,
Cruelmente assassinadas.
No final vi corpos deformados,
Com alguns dos seus membros cortados.»

Não acreditava naquilo que lá de cima via,
Com isso, sinceramente, sofria.
Foi o que imaginei,
Quando a torre fixei.

sábado, novembro 18, 2006

Recomeço




Enquanto passeava
Uma criança sozinha encontrei,
Por que chorava?
Eu lhe perguntei.

«Respondeu-me que chora
Por ter sido abandonada.
Cresceu numa família
Que não lhe dava carinho.
Ninguém se preocupava com ela,
Toda a gente vivia
Afastada dela
Mesmo estando em casa.
Os pais não queriam perder tempo
Em dar-lhe atenção,
Por dedicarem cada segundo
À sua profissão.
Quando chegava da escola,
Raramente via o pai.
A mãe estava lá,
Mas ocupada ela sempre está.»

Contou-me que ela até compreendia
O facto de os pais terem de trabalhar,
Para ganharem dinheiro
E poderem-lhe dar
Tudo o que queria.
Ela chegou-me a perguntar:
«Eu não sou mais importante
Que o dinheiro?»
Disse-me também,
Que uma vida não tem preço,
Que preferia ser pobre,
Mas ter os pais do seu lado.
Que adiantava para ela viver no luxo,
Se aquilo que realmente precisava
Era de graça e não tinha?
Em qualquer altura podia ser dado!
O carinho
Era o único bem
De que verdadeiramente necessitava.

Olhou para mim a chorar
E confessou-me
Que se fosse possível trocava
Tudo o que os pais lhe davam
Por pequenas doses de carinho.
«Dizem que tenho de fazer esse sacrifício,
Mas será que é necessário?
Sou a pessoa mais infeliz do Mundo,
Porque falta-me o essencial.»

Enquanto ela desabafava,
Eu olhei para o céu
E reparei numa estrela que brilhava.
Tinha um brilho diferente,
Como se tivesse uma alma presente.
Ao ouvir aquela criança,
Em que eu concordava com tudo o que dizia,
Senti que tinha de fazer alguma coisa.
Olhei para ela,
Depois para a estrela,
Fechei os olhos
E em pensamento subi até ela.
Perto dela,
Percebi que nela
Havia algo especial.
Peguei nela,
Ao descer à Terra
Entreguei-a àquele ser sem carinho
E ela desejou que a sua vida
Fosse completamente diferente.

«Se foi milagre, eu não sei,
Mas encontrei essa mesma criança
No colo da sua mãe,
Com o seu pai
Ao seu lado.
Vi o quanto ela agora
Era feliz.
Era carinho o que ela mais queria
E eu dei-lho através da poesia».

Vocês,
Podem-no dar
Na realidade.
O filho necessita
De muita atenção,
Não sentem isso no coração?
Não se esqueçam que o filhos
Não têm culpa,
Porque não pedem para nascer.
Obrigado,
Por me dedicarem algum do vosso tempo,
Espero que também façam
Isso com os vossos filhos.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Imprevisto




Vinha eu das aulas
Um bocado triste,
Também estava desanimado
Por estar a chover.
Da chuva tu saíste,
E por um raio fui iluminado.
O teu olhar fez brilhar
Aquele momento.
Adorei relembrar
O bom que é te encontrar.
Não cai no esquecimento
Nenhum dos nossos encontros.

Quando estava perto de ti,
Eu depressa esqueci
Que estava molhado
Por causa da chuva.
Do teu lado,
Apenas pensei
Em aproveitar
Esse imprevisto.

Como andava contigo no pensamento
Desde o outro dia que te vi,
Senti
Que a minha saudade se dissipava
Quando meu olhar com o teu cruzava.
Tão bom estares de novo comigo,
Senti de novo o verdadeiro significado
Da palavra amigo.
Gosto muito da nossa amizade,
Será que isso é algum sinal?
Não quero a resposta,
Só espero conversar mais vezes…

Encontrei-te através de um imprevisto,
Talvez seja mais que uma coincidência isto.
Não sei como alguém te consegue fazer mal,
Eu era incapaz de te magoar.
Se o fiz,
Peço desculpa.
Quero ver-te novamente,
Ver-te sorridente,
Tão bom encontrar-te contente,
Porque estou no meu outro Mundo
Contigo presente.

sábado, novembro 11, 2006

Sou um perdedor



Por mais que tente fugir
A tua imagem me persegue.
Isso consegue-me atingir,
Porque fica à espera que me entregue.

Caio no teu carinho,
Sou teu vizinho
Porque corro para perto de ti.
Começo a minha viagem aqui.

O teu consolo não posso prescindir,
Ao incidir
Com o teu ser
Vou acabar por perder.

Sou fraco, e acabas por vencer.
O meu desejo
Acabou de me enfraquecer
E dei-te um beijo.

Foi aí que acordei,
Na realidade não te encontrei.
Tanto eu chorei,
Tantas lágrimas derramei.

Mais uma vez escapaste,
Num perdedor me tornaste.
Mas disso não me canso,
Na tua magnificência descanso.

A matiz
Da tua figura
É a cura
Que me deixa feliz.

Foi no teu sorriso
Que encontrei um aviso,
«Para ser paciente
E ficarei contigo novamente.»

Aquele momento mavioso
Faz-me acreditar no amor.
Sei que foi precioso,
Mas sou um perdedor.

Não vou lutar mais,
Vou deixar de ser maleável.
Já sofri demais
E este caminho não é fiável,
Porque sou um perdedor.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Ainda me dói


Já passou algum tempo
Desde que deixaste de existir.
Sem eu saber
Decidiste fugir.
Fugiste desta vida
Para ocupar
O teu lugar no céu.
Nesse dia foi definida
A tua ausência,
Deixando-me a lembrança
Da tua vivência
Neste Mundo alugado.
Coitado
De mim,
Que fiquei sem ti.

«- Deus,
Achas que é justo
Deixares-me construir esta relação,
Para depois não te preocupares em quebrá-la
Sem nenhuma explicação,
Sem nenhuma condenação?
Criei este lindo laço
Com a minha avó,
Quando menos esperava
O seu nome na lista estava
E ela já viajava…
Na longa viagem caminhava,
Ao saber disso
Meu coração parou,
Meu ser lágrimas de sangue derramou.
Uma ferida que não cicatrizou,
Porque ainda me dói.»

Os dias perderam a cor.
De que me vale sentir rancor?
É ruim não poder fazer nada.
Vivo e caminho,
Por te sentir do meu lado.
Sei que sou protegido
Pela sua bondade.
A tua morte foi uma fatalidade,
Parece que Deus
Tinha necessidade
Da tua presença.
Não vejo «bom senso»
Na sua decisão,
Porque levou-te da minha realidade.

«- Deus,
Por que é que criámos
Elos de amizade,
Se tu os quebras?
Por que é que valorizámos a união,
Se tu és Pai
Da desunião?
Por que é que eu
Faço estas perguntas
Se tu fazes tudo em silêncio?
Não sei se estas perguntas
São aceites,
Mas é a sua falta
Que me faz questionar.
O tempo não pára de passar,
Mas sua ausência ainda me dói.»

«- Avó,
Protege-me do mal.
A tua bênção é vital
No meu percurso.
Sigo como o curso
De um rio,
Quer cheio, quer vazio.
Agora vai sem água,
Porque a minha avó faleceu,
Como eu não a esqueci
Isto ainda me dói».