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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Sensível




Sou sensível
Ao nascimento de um bebé.
Àquele ser indefeso
Que passou nove meses preso
E com força decide sair.
Lhe foi concebida a benção
Que o trouxe para o colo da sua mãe.
Nos braços acolhido
Sente algo familiar,
Agora sabe que está protegido.

O facto de eu ser sensível
É por parecer mágico
O nascimento de um ser tão doce.
- Como é possível
Para alguém, ser algo trágico?
Tanta doçura
E imensa ternura
Envolvem esse acontecimento.
Que coisa mais pura
E notada em cada rebento.
Daí este meu
Grandioso sentimento.

Admiro todo o ser
Que sai
Da barriga de uma mãe.
Só peço:
- Desse ser com amor cuidai,
Porque ele é o «vosso tesouro»
E é digno de ter
Do seu lado
As duas metades
Que o fizeram nascer.
Não há gesto mais benigno
Do que o acolher
No mais imaculado paraíso.
(Em que possa ter
Pelo menos um pouco de paz,
Mas sendo no paraíso
Acredito que seja capaz
De crescer
Sem saber o que é uma bomba,
Ou a morte.
Causada
Sem motivos,
Sem nada!)

Assistir de perto
Ao seu crescimento,
À sua evolução biológica
E intelectual
Deve ser algo tão especial.
Ver nele
O reflexo de vós, pais!
É mesmo algo divino
Aquele sorriso risonho
De quando era um menino.
É o sonho
Que acalenta o vosso coração
No dia em que já é um homem
E quer a sua independência,
Mas vocês não deixarão de pedir protecção
Com frequência,
Sendo ele ainda aquele bebé tão lindo.

Sensível sou
Ao bebé que já fui.
Todos eles são iguais,
Têm os mesmos pais.
Dá-lhe toda a atenção,
Guia-o pela boa educação.
O significado
De um filho é carinho,
Por isso não o deixes sozinho!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Retrato sem rosto




Sombra,
Vejo em ti o meu retrato.
Sem rosto,
Nem traços
Mas és o meu...
Em ti estão presentes
Apenas os contornos
Da fisionomia do meu ser.

Ninguém te pode julgar
Como me julgam.
Ou deitar defeitos
Em termos de aspecto,
Da maneiro como fazem comigo.
Passas despercebida,
Mas a minha simples aparência
Parece ser cingida
Pelas pessoas que te pisam.
Por aquelas palavras de uma maligna superioridade
Sou desterrado,
Às vezes expatriado
Porque dão-me outra nacionalidade,
Negando-me o estatuto de português
E eu que adoro o meu «querido Portugal.»
Se não acham o mesmo vocês
Não me condenem a mim,
Mas sim
Os maus Governantes do meu país,
Que o fazem sofrer,
Magoando-o, já que põem
Os demais portugueses contra ele.

Ao longo destes dezoito anos
Não sofreu nenhuma alteração
O meu retrato sem rosto.
As mudanças estão em mim,
Não em ti.
Sei que os problemas,
Essas tantas opiniões
São exclusivamente direccionadas a mim
E não à tua invisível existência.
Tu és o disfarce
Daquilo que sou,
Por me julgarem
Sabendo onde estou.
Viro a moldura
De um quadro vazio,
Pelos rumores dum falso cicio.

Meu corpo
Priva a luz,
Não o atravessa
E aparece ela,
Mas aquele ciciar
A meu respeito irrita-me.
Sinto o coração
A bater no meu peito,
Só que não bate em ti,
Por isso diferente és tu
E não eu!
Apesar disso
As pessoas gostam de me inferiorizar.

Sou um ser com sentimentos,
Não um fantoche
De comentários
Desnecessários.

Sombra,
Deixa-me abrigar em ti.
Leva-me daqui...

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Ser...


Ser igual a ti,
É um caminho incerto.
Um objectivo traçado.
Uma realidade sentida,
Sendo a minha
A continuação da tua vida.
Além de ser uma escola,
Onde és o professor
E eu através das tuas lições
Dou ainda mais valor
Ao meu lado distensor.

Ser como tu foste
E como és,
É o percurso que hei-de seguir,
Uma estrada,
Mas que nela duas vezes
Não vou passar;
Um principio inalterável
Por ser fiável.
Também já é a minha maneira
De viver,
Pensar
E de reflectir.

Ser semelhante a ti,
É mais do que uma ideia predefinida,
Um modo diferente de estar
Em contacto com a Poesia.
Uma cultura que pretendo preservar,
Um credo religioso,
Um espaço mais ditoso.
Acaba por ser a parte espiritual
Da minha doutrina.

Ser interiormente igual a ti,
Mas sem utilizar palavras difíceis,
É o que quero ser
Porque sempre te admirei.
As personalidades em que te multiplicaste
Um fascínio em mim libertaram.
Quero que tu e eu
Possamos conduzir
o lápis,
Para que eu
Ultrapasse o próprio limite.

Ao ser igual a ti,
Posso tratar a poesia devidamente.
Apaixonadamente,
Da maneira como me ensinas
Escrevo o que começaste.

sábado, fevereiro 10, 2007

Clandestino...



É aquele que deixa o seu País Natal
E se aventura numa viagem perigosa
Até à Terra Prometida,
Só que está escondida
Nas costas de uma promessa duvidosa.
Ao longo da sua passagem
São frequentes os perigos mortais.
Todos quilómetros têm minas reais,
Mais reais que a hora da chegada.
Toma muitas formas cada empecilho,
Dificultando, até então, aquele trilho.
Perante o perigo
Sente seu sonho a enfraquecer,
Pelo facto do percurso extenso
Não estar a correr bem.
Vê ameaçada a sua esperança,
Foi num instante
A vinda daquela preocupação,
Mas esse não era o dia ideal
Para a transição!
A via marítima que escolheu,
Do seu objectivo se esqueceu,
Porque num naufrágio ele pereceu.

Também é aquele sobrevivente
Que fez a mesma viagem,
Motivado pelo mesmo sonho,
Mas com mais sacrifício.
Em condições desumanas,
Desde a partida,
Encontrou a Terra Prometida.
Quando recorda
Tudo pelo que passou,
Lamenta cada alma
Que nas águas negras mergulhou.