-->

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Retrato sem rosto




Sombra,
Vejo em ti o meu retrato.
Sem rosto,
Nem traços
Mas és o meu...
Em ti estão presentes
Apenas os contornos
Da fisionomia do meu ser.

Ninguém te pode julgar
Como me julgam.
Ou deitar defeitos
Em termos de aspecto,
Da maneiro como fazem comigo.
Passas despercebida,
Mas a minha simples aparência
Parece ser cingida
Pelas pessoas que te pisam.
Por aquelas palavras de uma maligna superioridade
Sou desterrado,
Às vezes expatriado
Porque dão-me outra nacionalidade,
Negando-me o estatuto de português
E eu que adoro o meu «querido Portugal.»
Se não acham o mesmo vocês
Não me condenem a mim,
Mas sim
Os maus Governantes do meu país,
Que o fazem sofrer,
Magoando-o, já que põem
Os demais portugueses contra ele.

Ao longo destes dezoito anos
Não sofreu nenhuma alteração
O meu retrato sem rosto.
As mudanças estão em mim,
Não em ti.
Sei que os problemas,
Essas tantas opiniões
São exclusivamente direccionadas a mim
E não à tua invisível existência.
Tu és o disfarce
Daquilo que sou,
Por me julgarem
Sabendo onde estou.
Viro a moldura
De um quadro vazio,
Pelos rumores dum falso cicio.

Meu corpo
Priva a luz,
Não o atravessa
E aparece ela,
Mas aquele ciciar
A meu respeito irrita-me.
Sinto o coração
A bater no meu peito,
Só que não bate em ti,
Por isso diferente és tu
E não eu!
Apesar disso
As pessoas gostam de me inferiorizar.

Sou um ser com sentimentos,
Não um fantoche
De comentários
Desnecessários.

Sombra,
Deixa-me abrigar em ti.
Leva-me daqui...

Nenhum comentário: