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quinta-feira, dezembro 14, 2006

Merecer




Todo ser merece viver,
Tem o direito de deixar
A sua assinatura
Depois de falecer.
Quando isto não perdura,
É, porque alguém preferiu esquecer
Aquele que já partiu.
Quebrando assim a ligação,
Que já não se mantém
Através de uma recordação.

Cada ser merece caminhar
Por esta vida,
Sem temer a partida
Por parte alheia.
Há sempre alguém que semeia
Sementes que enfraquecem
O próximo.
Deve ser, porque enlouquecem
E matam-no sem explicação,
Dizendo que isso foi um pedido
Do seu Senhor. Do seu Deus.
- «Pôde Ele pedir tal coisa?»

Nenhum ser deve receber carinho
Em doses desiguais.
Um coração cheio de espinhos
Não lhe ofereças mais,
Porque ele merece conforto.
Guia-o até ao porto,
Não o deixes à deriva no mar.

Todo ser merece viver abrigado,
Porque esse direito lhe foi consagrado
Quando na barriga
Ficou os noves meses
Aos cuidados da sua mãe.
Inibido de qualquer perigo
Desenvolveu-se nesse abrigo.

Cada ser merece uma mãe,
Da mesma forma um pai.
Nenhum dos dois o deve
Deixar, por ter uma influência
Grande no seu crescimento.
Essa carência
Será lembrada em cada momento.
Isso será como uma cicatriz,
Jamais será um ser feliz.

- «Escrevi este poema no geral,
Mas sofro desse mal.
Em pequeno fui abandonado
Pelo meu pai.
Não o julgo por ainda ser
Adolescente e não saber
O significado dessa palavra.
Também o meio em que vivia
Contribuiu para essa anomalia.
Mas aqui estou eu sem pai,
Ele pode não merecer
Este ser que está a escrever…
- «E eu não mereço um pai?»

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